9.8.07

Fui para www.naozero.com.br

Mudei de endereço virtual. O lançamento do meu livro me fez querer ter um blog com cara mais profissional e hospedagem independente. Graças ao André Avório, isso foi possível. Também pensei que valeria a pena ter um domínio terminando em com.br, que facilita a memorização no Brasil. Por tudo isso, agora voce pode me encontrar em http://www.naozero.com.br.

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7.7.07

Blog como ferramenta de relacionamento para microempresários - pte 1

Próximo ao nosso prédio aqui em São Paulo, eu e minha mulher fizemos amizade com a proprietária de um empório que vende só coisas gostosas e que atende as pessoas de maneira especial. Ela estava para contratar um serviço para fazer um site estático para seu comércio ser encontrado via Web. Me ofereci para ajudá-la a criar um blog que será mantido por ela usando recursos disponíveis gratuitamente pela rede. Estamos apostando que esta solução apliará suas vendas servindo como plataforma de relacionamento online com seus clientes.

Vou documentar esta experiência pelo blog com o objetivo de produzir um manualzinho para microempresários explorarem os benefícios da rede.

Introdução

No quarteirão do prédio onde moramos existe uma vendinha muito bacana, o Empório Salatino. É uma espécie de loja de conveniências. Vende pães italianos entregues de uma padaria do Bixiga, vinhos, frios e coisas gostosas em geral. Se você estiver voltando para casa depois de um dia cansativo, morar pelos lados da Pompéia em São Paulo, e quiser um petisquinho especial, com produtos diferenciados e atendimento simpático, esse empório é ótima opção.

Antes de falar sobre o empório, vou relatar como nós o descobrimos. Nos mudamos para este prédio no começo de 2006. E antes de tomarmos coragem e entrar, eu e minha amada passamos muitas vezes na frente desse empório com cara de vendinha de bairro. Por um lado, parecia com o comércio familiar. Fica no espaço de uma garagem, comida por todos os lados, tudo limpo e iluminado, garrafas de vinho, azeitonas, massas e molhos caseiros. Mas para que ir lá? nós pensávamos. Temos quatro supermercados a um raio de poucos quarteirões, onde compramos tudo e o pagamento é facilitado.

Enfim, de tanto passar na frente, um dia acabamos entrando. E desde então nos tornamos fregueses.

A Vanessa, proprietária, como boa descendente de italianos, adora uma mesa farta, bons vinhos, festa, risada, e ela escolhe os produtos desse jeito, como se estivesse preparando um jantar de domingo, e é ela quem atende e faz as vendas. Essa intimidade com a mercadoria e com o fornecedor, além do carinho, bom humor e empolgação honesta no atendimento são características que o varejista de grande porte não poderá igualar.

Nesse sentido, o Paladino é familiar, mas tem a agilidade de um negócio atual. Enquanto alguns comerciantes de antes do computador e da popularização dos cartões rejeitam essa solução de venda, em função do custo associado à taxa de transação e aluguel do equipamento, o empório aceita todas as bandeiras, para crédito e para débito.

A Vanessa percebeu que para a classe média, o cartão substituiu a compra à fiado. O espírito é o mesmo: leve agora, pague depois, e essa facilidade frequentemente estimula o cliente a gastar mais. Uma compra que seria de R$ 5 (300g de azeitonas) facilmente sobe para R$ 20 (azeitona + vinho em promoção, por exemplo).

Proposta

Por que estou falando tudo isso sobre esse Empório Salatino? O que isso tem a ver com este blog sobre Internet colaborativa? É que um desses dias, estávamos conversando com a Vanessa, e ela disse que estava para contratar um serviço para criar e dar manutenção a um site para promover o empório. Ela pagaria R$ 150 por ano tendo direito a três páginas estáticas - o que quer dizer que ela não poderia administrar o conteúdo publicado, para fazer isso, dependeria de entrar em contato com a empresa solicitando a mudança.

R$ 150 não é caro. Acho que é um serviço necessário e que tem sua demanda na medida em que disponibiliza a informação sobre o comércio online para ela ser reconhecida nas consultas a ferramentas de busca como o Google. Mas o empório, por suas características, talvez possa aproveitar a internet de maneira mais eficiente, afinal essa é a mídia do pequeno, do não-especialista, do autônomo.

Me ofereci para dar gratuitamente uma consultoria à Vanessa. O objetivo é criar uma plataforma para ela se relacionar online com seus clientes, usando ferramentas também gratuitas disponíveis na rede.

Veja que da mesma maneira como a opção por aceitar cartões de crédito, este caminho não se justifica pela economia. No final das contas a Vanessa vai pagar mais e ter trabalho. A administração da ferramenta ficará por sua conta, ela terá que manter o site atualizado. E mais: fará isso quando não estiver atendendo, o que significa que terá que instalar uma conexão no empório, pagando alguma coisa em torno de R$ 30 por mês, pelo menos. Mas fazendo isso, estamos apostando que o relacionamento que ela já desenvolve com seus clientes presencialmente ganhará outra dimensão.

Além de estar fazendo isso pela Vanessa, para valorizar seu bom trabalho, a idéia de oferecer esta consultoria é utilizar a experiência como base para escrever um artigo relatando o processo, de modo que isso fique disponível a outros microempresários interessados em investir nessa oportunidade de relacionamento com seus clientes e, por que não, também com os parceiros e fornecedores.

Pretendo registrar a experiência no blog e no final, elaborar uma espécie de manual, para dicar disponível em PDF e possivelmente em um wiki, justamente para que o conteúdo fique aberto e possa ser expandido por outros profissionais tanto da Internet como por empresários que tiverem vivências nesse campo.

Essa é a introdução e a proposta. A seguir, vou relatar os nossos primeiros passos para implementar o site.

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Enfim, férias!

Consegui tirar férias em julho. Mas passei a primeira semana correndo. Tinha algumas pendências. Difícil se desligar um mês. Precisei deixar um mês de boletins do Leia Livro gravados para a transmissão em agosto. Também teria que gravar uma porção para o Viva São Paulo, mas resolvi reprisar uma parte do material de 2006.

As outras incumbências profissionais, reais e imaginárias, estão resolvidas. Tenho tempo, agora, para recarregar baterias. As provas do Conectado ficaram prontas e estão à caminho. Além disso, tenho três livros na fila e um para terminar de ler. Quero também dar uma consultoria - mais sobre isso no post seguinte. E devemos sair pelo menos duas semaninhas da cidade, para lavar do corpo a pressa, a ansiedade.

Enfim, férias!

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28.6.07

Baixe, assista, distribua, promova e remixe (se puder)

Na terça eu li no link-estadão (se abrir, cuidado com o banner ninja da microsoft!) sobre o lançamento do video Good Copy Bad Copy feito por uma trinca dinamarquesa, sobre direitos autorais à luz da internet.

Busquei no Google pelo título na terça mesmo e cheguei ao site original. Baixei via Torrent. Demorou umas duas horas no máximo. Hoje, dois dias depois, assisti o vídeo - que, diga-se, foi lançado apenas online.

Sem palavras. Tem que assistir. A declaração do produtor de cinema nigeriano resume o Long Tail. Na Nigéria, ele comenta, tem um ditado que diz que você não pode ser grande e pequeno ao mesmo tempo. "Se os EUA escolheram dominar o mercado mundial de cinema, bom para eles, mas isso nos deixa muitas brechas aqui em baixo para produzir e ganhar dinheiro." A Internet e a tecnologia digital são as ferramentas.

Voltei ao Google para pegar o link para publicá-lo aqui e, surpresa: o site original já não está na primeira página de resultados da busca. Ao invés disso, recomendações da pesada. Blogs populares como o Boing Boing e o site do Creative Commons estão promovendo o video.

Muito educativo. E é curioso notar como um dos modelos de negócio mais originais do nosso país está no extremo da nossa periferia e é tocado por pessoas que nunca pensaram em fazer MBA. Já falei dele aqui. Mas o assunto é o documentário: baixe aqui.

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Bem-vinda ao mundo, Eleonora

Uma das minhas colegas de trabalho, uma menina doce, bem casada, está curtindo sua primeira gravidez. Em agosto, se tudo seguir nos trilhos, virá ao mundo a pequena Eleonora... A mãe da Eleonora tem convênio médico e portanto poderia fazer o parto em uma boa maternidade, reduzindo ao mínimo as dores e o estresse que envolvem a situação. Mas para o escândalo do médico e de quase todo mundo que conhece minha amiga, ela decidiu dar a luz sem anestésico e sem a presença de um médico, em centro de saúde público que faz parte do SUS chamado "Casa do Parto".

Eu nunca tinha ouvido falar dessas Casas. Segundo minha colega, só existem duas em São Paulo, no Itaim Paulista e em Sapopemba. Quem conhece a cidade, sabe que esses locais ficam na periferia da periferia, e portanto foram criados para atender a demanda de grávidas de origem simples, dispostas a ter seus bebês da maneira convencional, sem cortes e sem anestésicos.

Curiosamente, em uma completa inversão de planos, as Casas de Parto praticamente não teriam pacientes não fosse a demanda de mulheres da classe média. O procedimento é acompanhado só por enfermeiras e existe uma ambulância na porta para o caso de acontecer alguma complicação. Além disso, a criança vem ao mundo cercada de familiares. E como a mãe não é anestesiada e nem recebe pontos (o corte vaginal é preventivo, mas não é um procedimento necessário para todos os casos), em poucas horas mãe e filho voltam para casa.

E para que uma pessoa se submete a ter seu filho dessa maneira? Por que não fazer o procedimento com hora marcada? É bom para o médico, que não precisa ficar a postos esperando as contrações, é bom para a mãe, que supostamente sofre menos. Talvez só não seja bom para a única pessoa que não é consultada nessa equação: o bebê, que é o motivador de toda a história, mas que não tem como se manifestar.

Não vou falar do óbvio, que é você ser tirado da barriga da sua mãe pelas mãos de alguém, de uma maneira artificial, contrariando a cerimônia do parto. O que eu não sabia em relação ao procedimento cirúrgico para o nascimento, é que ao sair, o bebê fica uns poucos segundos com sua mãe e já é encaminhado para exames. Volta só uma hora depois. E daí em diante, pelos próximos três dias, passa a maior parte do tempo em um berçário junto com dezenas de outros recém-nascidos, sozinho, isolado, como se ele fosse uma planta de estufa.

Não acho que alguém precise do diploma de psicólogo para imaginar o desconforto, a imensa tristeza que isso deve gerar em muitos deles, de concluir um processo de nove meses vivendo no interior de sua mãe, na situação de maior intimidade, e de repente ser colocado nesse confinamento, recolhido a cada três horas para mamar para em seguida voltar para sua solitária, longe do calor, do cheiro, da textura da pele e do som da pessoa a partir da qual ele se fez.

Eu não sou mulher, nunca serei mãe e por isso não tenho como avaliar a experiência do parto desse ponto de vista. As dores, as contrações, o cansaço, as possibilidades de infecção. Mas se as novas mamães, antes de terem seus filhos, já são convencidas pelos médicos e pelos especialistas em relação ao que seria melhor para elas e para a criança, elas também não estão tendo o direito de tomar essa decisão.

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27.6.07

Por que a culpa por trocar arquivos via redes P2P?

Lawrence Lessig, como muitos devem saber, é o professor de direito da Universidade de Stanford que idealizou e conduziu a implementação do Creative Common, uma maneira alternativa ao direito autoral convencional para se registrar conteúdo criativo. Seu livro Free Culture, lançado em 2004, explica, fundamentalmente, porque a sociedade considera criminoso o compartilhamento de arquivos via P2P, e porque na verdade o crime é proibir e restringir o compartilhamento.

Nos Estados Unidos, no começo do século 20, havia uma lei que dizia que o proprietário de um terreno também tinha direito a tudo que estivesse infinitamente abaixo e acima dele - em tese, isso incluiria até as estrelas do céu. Quando o aeroplano foi inventado, um fazendeiro proprietário de terras vizinhas a uma base militar, usou essa justificativa legal para processar o exército. Se ele ganhasse a causa, o desenvolvimento do transporte aéreo dependeria de se encontrar uma solução para ressarcir os donos dos terrenos nas rotas de viagem.

Poucas décadas antes, a invensão da fotografia provocou debates nas cortes de Justiça. O fotógrafo deveria ter o direito de reproduzir aquilo que não o pertencia? Se eu tirasse uma foto e na paisagem houvesse casas e edificios comerciais, seus proprietários não deveriam ter direito a cobrar pelo que estava sendo retirado deles?

Essas perguntas soam absurdas hoje em dia, mas em algum momento, a emergência de uma nova tecnologia provocou este tipo de questionamento. Mas o fato da Justiça ter decidido a favor da inovação influiu na maneira como a percepção foi moldada.

Considere agora, por exemplo, como temática, o estudo da mídia. Se um pesquisador quiser analisar um jornal do século 19, basta ir a um arquivo ou a uma biblioteca e solicitar o material. Mas se o objeto de estudo da pesquisa for um determinado programa de TV produzido no século 20 e o material pertencer a uma emissora que continua funcionando, como o pesquisador terá acesso ao material?

Os programas televisivos, diferente dos jornais, não têm a obrigação de serem arquivados para a posteridade - como está previsto pela Lei no caso dos periódicos - e mesmo que se consiga uma cópia do material pretendido, a utilização dele dependeria do OK da detentora dos direitos autorais. Para fazer um documentário, o pesquisador pode citar o conteúdo de um periódico, mas só poderá usar um clipe tendo permissão, o que geralmente implica em aumento dos custos de produção e isso inviabiliza a realização da maioria dos projetos desse tipo.

Por que podemos reaproveitar certas informações como as impressas em jornais e revistas e não podemos fazer o mesmo com outras como o audio e vídeo? E por que temos a percepção de que faz sentido as coisas serem como são? Por que esse tipo de restrição não provoca a mesma sensação de que se trata de um questionamento absurdo, como quando se propõe que o fotógrafo pague direitos autorais por imagens tiradas na rua? Ou que o avião pague ao proprietário de um terreno por sobrevoá-lo? Esse é o assunto do livro Free Culture, de Lawrence Lessig, lançado em 2004.

Desde que comecei a lê-lo, me sinto dividido entre o desejo de avançar e simultaneamente o de compartilhar no blog os elementos principais de cada capítulo. E isso, em si, diz respeito a este livro, na medida em que a natureza de um produto não-rival (que não seja escasso) como é o caso da informação é se disseminar; ele é reinventado a partir da disseminação, da circulação, do remix que abastece o espírito criador de idéias e sensações. O que seria, por exemplo, da série Guerra nas Estrelas se os direitos autorais da mitologia ocidental e oriental fossem reservados?

O argumento de Lessig não é o de que a propriedade seja intrincecamente ruim. Ele diz que dentro das sociedades, sempre existiu espaço para o material proprietário e para o livre. Os direitos autorais, nesse sentido, servem originalmente para garantir que existam incentivos para os criadores produzirem. Acontece que com o surgimento da Internet, popularizando a tecnologia digital de reprodução e difusão, os limites entre o que era considerado comercial e o que era de domínio público se confundiram.

Para Lessig, a diferença entre a maneira como a Justiça encarou inovações como o avião e a fotografia e a maneira como está encarando a Internet, é que aquelas tecnologias não colocaram em cheque um setor industrial. O surgimento da Internet, por sua vez, abriu uma possibilidade sem precedentes para a remixagem de informação mas paralelamente demonstrou a falência do modelo de negócios que empacota informação digital - imagens e sons. Esse impasse vem levando essas empresas a fazerem lobby para que os direitos autorais sejam cada vez mais controlados. O que, segundo Lessig, não serve para proteger o artista criador, mas interesses financeiros. Isso estaria fazendo surgir uma cultura de permissão como foi a sociedade feudal.

Free Culture é um livro escrito com lucidez, recheado de exemplos e voltado ao público não-especialista. A meta do autor é desconstruir a percepção, aparentemente óbvia, de que o compartilhamento de arquivos seja um roubo e que portanto prejudique a economia. Ao contrário, esse procedimento geralmente vem acompanhado de geração de conhecimento e riqueza.

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15.6.07

Conecato em uma casca de noz

O título do meu livro que sai da gráfica em agosto é Conectado - O que a Internet fez com você e o que você pode fazer com ela. Quero realizar um exercício de reflexão para definir esse trabalho em pouquíssimas palavras e de maneira clara ao público geral. Isso é importante na medida em que o livro não cabe comodamente em definições estabelecidas das publicações de não-ficção como manual técnico, jornalismo literário, ciência popular ou reportagem.

Há 40 anos, apenas instituições tinham recursos para comprar computadores e só especialistas conseguiam operá-los. Mas gradativamente esse aparelho inaugurou uma maneira nova de comunicação, reduzindo limitações de tempo e espaço e permitindo a interlocução entre grupos de pessoas. Conectado é um manual para o usuário sem experiência técnica entender o que mudou, saber como tirar proveito desse novo cenário e também perceber os riscos e desafios que ele traz.

Até pouco tempo, existiam dois modelos de comunicação: no broadcasting, a informação saía de um ponto para muitos mas não voltava; no two-way, ela ia e voltava entre dois pontos. O broadcasting tradicionalmente esteve associado a instituições e serve para falar com audiências; o two-way foi moldado para o uso doméstico e seu alcance é reduzido. Mas nos últimos dez anos, pessoas comuns passaram a ter o mesmo poder de difusão antes reservado a governos e empresas. Conectado mostra como tornar essa experiência ainda mais radical, capacitando os interessados a explorar os recursos da chamada comunicação de muitos com muitos.

Fala de tecnologia mas não é um livro técnico. Também não é uma divagação filosófica ou acadêmica sobre a Internet. Foi pensado como o manual introdutório para um curso sobre comunicação online que inclui aspectos técnicos e teóricos, apresenta situações práticas, discute casos e introduz alguns temas debatidos como pirataria e privacidade. Ele pode ser aproveitado por jornalistas e comunicadores em geral, acostumados ao broadcasting, entenderem as novas regras e desafios da profissão, e também para o restante do público, profissionais de outros campos, interessados em tirar proveito dessas novas ferramentas.

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