31.5.07

Microsoft e Abril lançam portal colaborativo para professores

No próximo dia 6 de junho de 2007 acontecerá em São Paulo, em um evento fechado na Casa do Saber, o lançamento do Portal Educadores em Rede, uma parceria entre a Microsoft e a Fundação Victor Civita, mantida pela Editora Abril.

Segundo o anúncio feito pela MS: No espaço criado especialmente para educadores, o trabalho colaborativo será o grande foco. Os educadores cadastrados poderão criar comunidades para trocar experiências e debaterem com colegas de todo o país.

Planos de aula que envolvam o uso da tecnologia e objetos da aprendizagem serão alguns dos recursos disponibilizados no endereço.

O portal Educadores em Rede já existe em outros países, como Reino Unido e Portugal. Agora é só aguardar a novidade!

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RG, tel e endereço para usar cibercafé

Eu não tenho viajado e como tenho acesso à rede no trabalho e em casa, não frequentava há algum tempo cibercafés. Ontem, trancado para fora de casa e do escritório, acabei aparecendo em um. Ao pedir para utilizar a máquina, o recepcionista me passou uma prancheta para eu preencher com meu nome, endereço de casa, RG e telefone. Pensei que já fosse a Lei Azeredo, mas não. Trata-se de legislação estadual, decreto 50.658 de 30 de março de 2006 e lei n° 12.228 de 11 de janeiro de 2006. Alguém sabia?

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Dois meses dedicado a corrigir

Eu faço tanta coisa e acabo não priorizando o convívio social. Vou na cola da Tati. Não fosse por ela, estes dois ultimos meses eu teria desaparecido. Nesse período estive semanalmente recebendo porções do meu livro com dezenas de correções, tanto gramaticais quando pedidos de esclarecimento em relação ao conteúdo. Ainda resolvi fazer uma mudança mais profunda, escrevendo um capítulo novo. Mas esse período parece ter chegado ao fim. Compartilho com quem estiver acompanhando a "saga" o último email relativo a correção.

De novembro 2005 a julho 2006 produzi a primeira versão do livro. Mostrei para quatro pessoas. Com o feedback, joguei fora a metade mais biográfica do livro para desenvolver a parte informativa, 'manualística'. A segunda versão ficou pronta em 9 de janeiro de 2007. Até o início de abril, esperamos respostas das editoras. Enquanto isso, fui fazendo correções, mudanças.

Em abril, quando assinamos contrato com a Zahar, começou um redemoinho louco de correções. Reta final, última chance para mudar, reescrever, acrescentar, tirar. Esse período, para mim, terminou ontem, quando re-revisei as duas últimas partes do livro e mandei de volta para a Beth, responsável pela correção do livro. Segue a mensagem "história" que ela me mandou:

Oi Juliano!

Estou remetendo os arquivos do prefácio e dos dados biográficos. Só falta isso! Acredita?

Já enviei todo o restante para a editora. Agora o livro entrará na fase de produção (diagramação). Quando estiver pronto você deverá receber uma prova para ver se está tudo ok? Nessa etapa não poderemos fazer grandes mudanças, apenas ajustes. Espero que tenha ficado tudo a contento, vamos aguardar.

Vou fazer uma pergunta meio absurda nessa etapa final: seu nome é Spyers ou Spyer? No miolo está com S, no prefácio e na biografia sem. Precisamos consertar.

Bom aguardo seu retorno para poder enviar esses últimos textos para a Zahar.

Um abraço Beth

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24.5.07

a reason for life

hoje vi uma conferencia com um ex-ministro de cultura da UK. quando foi convidado para o cargo, ele atuava como spokensperson ligado ao partido trabalhista para área da saúde. um amigo dele viu uma relação, na época, entre o que ele fazia e o que viria a fazer. disse assim:

- health is necessary to life, culture is a reason for living.

gostei da definição e estou registrando.

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23.5.07

Blogs são pauta mas não fazem notícia

A nossa blogosfera ainda não desafiou a elite da mídia nacional pelo domínio da esfera pública. E talvez isso nunca aconteça.

Sobre o que estamos falando
Antes de atacar o tema, vale a pena definir sobre o que estamos falando. A ferramenta blog pode ser usada como um remedo da mídia tradicional para fazer broadcasting, a chamada comunicação de um para muitos. É o caso do profissional da mídia que apura informação da maneira tradicional e transmite pela Web. Ele continua sendo o gargalo, o que escreve, a parte ativa, em relação aos muitos leitores que não têm o mesmo poder de alcance.

O outro tipo de blogueiro é o que usa da ferramenta como o neurônio: ele estabelece ligações com milhares de outros e seu diferencial não está nos contatos, mas em como ele reprocessa a informação servindo ao mesmo tempo como distribuidor e comentarista. Ele não é o profissional da mídia, mas o interessado em outro assunto com acesso à mídia.

Existem blogs que se tornaram famosos no Brasil. Alguns deles são de figuras conhecidas da mídia como Ricardo Noblat e Juca Kfouri. Para eles, o blog é uma alternativa aos veículos tradicionais, um canal de contato direto com o público, tanto para lançarem seus textos como para receberem feedback e informações da audiência. O outro tipo de blog é feito ainda por grupos específicos, pessoas ligadas à tecnologia e comunicação, com idade entre 20 e 40 anos. Estes, sim, funcionam integralmente como um novo veículo por estarem ricamente interconectados e "digerirem" informações.

Para considerar o blog enquanto mídia diferenciada, estou me referindo ao segundo caso que pressupõe a comunicação de duas vias entre usuários participativos, que lêem e escrevem, e não o ambiente em que poucos escrevem e muitos lêem.

Contextualizando a questão
Para analisar a influência do blog na mídia, podemos comparar a evolução do uso da internet no Brasil e nos Estados Unidos.

Lá a Internet comercial existe desde o final dos anos 1980. Uso como referência o ano de 1989 quando foi aberto o primeiro serviço comercial de acesso à rede via conexão discada. Lá o blog foi inventado em 1994 e passou por uma fase de "incubação", tendo sido primeiro abraçado por especialistas high-tech, depois como canal para a expressão de adolescentes, e finalmente, em 2001, com o barateamento do acesso à rede e a simplificação das ferramentas de publicação, cruzou a linha divisória e se tornou 'mainstream'.

No Brasil a Internet chegou mais de cinco anos depois, em meados dos anos 1990. Os blogs começaram a aparecer no finalzinho da década passada. Se por um lado tivemos a vantagem de receber a tecnologia pronta e conhecer sua aplicação por conta dos exemplos internacionais, por outro temos um público de internautas bem menor (somos 33 milhões de falantes de portugues na Web contra por volta de 300 milhões falantes nativos do inglês), sendo que uma fração maior dos nossos usuários em relação aos norte-americanos apresentam dificuldades para compreender textos e se expressar por escrito - ambos condições para a disseminação do blog.

Perspectivas de amadurecimento

Entre os usuários brasileiros capacitados para tirar proveito dessa tecnologia, existem basicamente os com mais de 30 e os com menos. Os primeiros usam a Web para pesquisar e trocar emails. Os outros já entendem que essa nova mídia funciona de maneira diferenciada, que ela permite ao mesmo tempo a formação de comunidades (pela comunicação de duas vias como o telefone) e a interlocução com audiências (pela comunicação de um para muitos como a TV). Aqueles têm mais opções para aplicar a mídia a suas profissões, hobbies, bandeiras políticas ou causas sociais. Estes descobriram o canal mas as aplicações são restritas às demandas e estímulos do ambiente escolar e social.

O amadurecimento da blogosfera brasileira vai acontecer na medida em que esses dois públicos se encontrarem e que os estudantes e jovens profissionais assumam mais espaço e responsabilidades na esfera pública e no mercado de trabalho. No médio prazo, isso pode acontecer de maneira total ou apenas parcial. É possível que essa transição de fase se complete pela incorporação do blog como parte ativa da condução dos debates públicos, como é possível que o caldo não dê liga e a influência dos blogs fique limitada a segmentos específicos de usuários.

Por enquanto, a influência do blog na mídia brasileira existe prioritariamente enquanto tema de pauta na medida em que os veículos locais repercutem notícias européias e norte-americanas.

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18.5.07

Site convida alunos a ranquearem professores

A idéia do site descolando.com.br é dar aos universitários um espaço para trocar informações e avaliarem seus professores. Se for bem executado e a justiça brasileira não criar caso no começo, será um experimento social digno da Internet. O projeto desregulará a divisão de forças nas instutuições de ensino e ninguém sairá ileso.

Recebi um email anunciando o lançamento em breve do site www.descolando.com.br. Particularmente, não gosto do nome, por não ter relação direta com o assunto e causar confusão para quem escuta uma vez - digamos - pelo rádio e anota 'decolando' ou 'recolando' ou 'descolado'. Fora isso, a idéia promete dar o que falar, tem potencial para isso.

O site serve para estudantes avaliarem professores. Isso já deu muito o que falar nos EUA, porque existe um certo conflito de interesses entre professor e aluno. E já ouvi de aluno lá ter comprometido a carreira de professor postando, por exemplo, informação privada. 'Já ouvi dizer que Fulano fuma maconha.' Se é verdade, sem vem ao caso, se influencia sua performance profissional, não importa. Contra boatos, não há argumentos.

A Internet veio para chacoalhar o ambiente. Yochai Benkler fala da abertura de janelas para renegociação de valores provocada por uma inovação tecnológica. Haverá "casualidades de guerra". Mas o www.descolando.com.br acerta no questionamento ao poder instituído. É o mesmo tipo de tensão entre blogueiros e jornalistas. Os últimos dizem que são profissionais, e daí? Isso deve ser prerrogativa para que eles controlem (junto com os donos dos veículos) a esfera pública, o que é falado e calado?

Os professores talvez se sintam expostos, inclusive porque em geral eles dominam menos esta mídia que seus alunos. O tabuleiro mudou. As regras mudaram. Eles terão que ir à luta, reaprender a sobreviver usando essa plataforma de mídia.

Noves fora, a única mudança do descolando.com.br é o aumento do alcance da informação. Antes esse tipo de avaliação acontecia formalmente quando o estudante ou seus pais recorriam à direção para reclamar de um profissional, ou informalmente nas conversas entre colegas. Na minha faculdade, alguns professores tinham centenas de alunos e eram escalados para os auditórios, enquanto outros tinham menos de vinte e ficavam com as salinhas. Motivo: recomendação boca a boca.

O que o www.descolando.com.br promete fazer é que esse tipo de informação se liberte. A escola não poderá esconder o fato de um profissional não agradar uma turma. E ele poderá inclusive ser um bom professor mas incapaz de se articular politicamente com os alunos.

Esses casos deverão ser a exceção. Um profissional competente deverá ter alunos a seu favor para balancear as críticas dos mal-intencionados. Seria, inclusive, interessante que o site provesse algum mecanismo de ranqueamento para a comunidade saber se aquele estudante tem mais ou menos méritos para sua opinião ser respeitada. Isso poderia se basear na recomendação de outros estudantes e também nas notas que ele recebe em seus cursos.

Meu único receio é que o site saia do ar por causa de algum processo jurídico.
A legislação de um lado pende para o lado de quem pode pagar advogados caros - Roberto Carlos censurou sua biografia e ficou por isso mesmo - e de outro trata a população geral como incapaz. Se dependesse da justiça daqui, Orkut e YouTube, os dois maiores fenômenos da Internet brasileira, teriam sido fechados.

Eu espero que o descolando.com.br consiga tanta simpatia dos estudantes a ponto de colocar a justiça e os establishment educacional em uma posição delicada ao querer impor suas decisões. Como aconteceu no começo do mês nos Estados Unidos, quando o site Digg! enfrentou uma revolta entre seus usuários por ter apagado uma informação relativa ao código para copiar informação dos HD DVD. As empresas até pediram, as leis até permitiam, o site até tentou, mas qualquer imposição pela força seria tão impopular e geraria tanto mais mídia que todos desistiram.

Vida longa ao Descolando.com.br !

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Sobre o livro

As últimas semanas foram de quase-caos. Estamos já trabalhando na correção do texto para chegar à prova final, que deve ficar pronta no fim de maio.

Não consegui incorporar tudo o que tive vontade. Tem novidades demais acontecendo, principalmente casos originais. Coloquei bastante coisa, mas ainda matuto sobre colocar uma ou outra coisa. Encontrar informação nova também faz a luzinha acender: puxa, isso caberia na parte tal...

Mas o motivo do caos foi ter encontrado um texto que impôs a redação de um novo capítulo. E esse novo capítulo, em efeito dominó, levou a uma reorganização profunda.

Desmembrei vários capítulos, reorganizei a sequencia, joguei algum texto fora (sempre dói), e estou muito satisfeito com o resultado.

Eu estava comentando ontem com a Tati: em agosto do ano passado, quando concluí a primeira versão do livro, achei que tinha chegado ao limite, que aquilo era o final. Recebi feedbacks e acabei cortando metade do material e escrevendo muita coisa nova para chegar à versão enviada às editoras. Novamente me ocorreu que aquilo era o produto final. Mas tão logo eu tive tempo depois de encaminhar os arquivos às editoras, já me vi refazendo, reescrevendo, revisando.

O livro que vai sair em agosto é em essência o que ficou pronto em janeiro: um manual de introdução à mídia colaborativa online. Mas o conteúdo foi lapidado nesse período. Desde o título, refeito a partir de uma conversa com o edu acquarone. Depois o subtítulo, de um brainstorm com a ajuda da Tati. Passando pela revisão do texto com a participação da Beth Arruda. E agora todo o polimento que vem das mexidas formais.

Uma coisa interessante que me dei conta nesses últimos dias: descobri partes de um capítulo espalhadas em outros. É como se no processo de redação, um assunto reaparecesse no meio de outro; como uma conversa onde os temas mudam. e retornam Descobri que muita coisa que eu pus originalmente na conclusão era a continuação de um capítulo anterior. A Tati falou isso quando leu, mas eu não consegui ver naquele momento. Felizmente deu tempo de reorganizar essa informação a tempo.

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Dream job

Havia um business plan para este projeto profissional? Ouvir podcasts legais, especialmente os relacionados a tecnologia, e explorar as principais noticias em primeira mão no blog. Preocupação: information overload. Objetivo: encurar o gap entre lás e aqui; oferecer informação e comentário vivo, em diálogo com outros blogueiros.(Depois de conseguir o player para baixar os podcasts, agora falta o país para poder escutar os arquivos durante translados. But you cant always get what you want...)

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9.5.07

Emails são para sempre

Se você quiser que alguma mensagem que voce mandou ou recebeu faça parte de um acervo internacional, envie-a para o endereço: email@emailbritain.co.uk. A Biblioteca Britânica e a Microsoft estão unindo forças para registrar essa faceta privada da comunicação moderna para as gerações futuras. Mais aqui.

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3.5.07

Anti-pop

Hoje fui à Rádio USP para uma reunião e no caminho me lembrei de uma proposta que apresentei à antiga diretora da rádio há mais de dez anos. A idéia era tocar livremente tudo o que não estivesse relacionado à indústria pop, da música de raiz ao experimentalismo de vanguarda. O programa nunca se materializou, mas fiquei surpreso ao perceber o quanto ele tem a ver com o modo de ouvir música que se desenvolveu junto com a Internet. (Não deu para revisar o texto antes de publicá-lo.)

Em meados de 1990 eu e um amigo do Depto. História levamos à então diretora da Rádio USP a idéia de fazer um programa. Ainda não tinha nome, mas o conceito estava claro: tocar o que não tocava em outras emissoras.

Isso ainda é vago. Queríamos fazer um programa anti-pop para mostrar tudo aquilo que o filtro do mercado não aproveita, que não gera receitas astronômicas e que não está limitado a fórmulas comerciais.

Uma vez, entrevistando o maestro Jacques Morelenbaum, ele disse que gostava de música simples e original. Talvez não tenha dito nessas palavras, mas a idéia era essa. Buscar o material que faça sentido em um nível profundo de compreensão, independente da procedência.

Na época a diretora gostou da proposta mas pediu que limitássemos o conceito do programa. Fizemos uma sessão de brainstorming e surgiu o Planeta Som, cujo universo musical ficaria restrito à World Music e à chamada "música de raiz".

Passados alguns anos apareceu o Napster e a possibilidade de escutar música para além dos limites estabelecidos pelo mercado. Até então, música custava caro: você assistia um show, escutava rádio (e pagava se expondo aos anúncios) ou comprava álbuns, que valiam em média uns 15 dólares.

A gente comprava música como comprava livro. Não dava para fazer muita extravagância porque dez discos em um mês pesava no orçamento da maioria das pessoas. Então, ao se levar um disco novo para casa, a gente deixava ele tocando seguidamente um tempo. (Lembro do Aos Vivos do Chico Cesar que ficou meses sendo a trilha sonora de uma república estudantil que eu morei.)

Com o Napster esse cálculo perdeu o sentido. O céu era o limite. O cálculo mudou. Antes a gente comprava na certeza de que valeria a pena; depois, passamos a baixar na dúvida de que valeria a pena. A possibilidade de aquilo ser interessante bastava.

Mas houve um problema jurídico e outro técnico: as gravadoras conseguiram enquadrar o Napster, que teve que sair do ar. E era um problema transportar os arquivos MP3 de um micro para outro. Como o volume de música era grande, as pessoas precisavam queimar muitos CDs. Não era prático manusear esse material offline.

Anos se passaram até eu voltar a ter vontade de mexer com MP3. Voltei graças ao SoulSeek, um serviço para compartilhamento P2P que permite que as pessoas vasculhem as pastas de música umas das outras.

Em resumo: voce está procurando um artista ultra-raro e encontra no computador do fulano de tal. Há uma chance razoável de que essa pessoa, que tem um gosto musical parecido com o seu, conheça o trabalho de artistas que você não conhece mas pode gostar. Como explicouo meu amigo Guará, o SoulSeek é um instrumento de conhecimento.

Mas de que adianta ter música demais, encontrar coisas incríveis, e não poder desfrutar disso. O MP3 e o P2P precisam vir acompanhados de um tocador de MP3. Não qualquer tocador, mas um que tenha uma memória extensa, que caiba literalmente toneladas de informação. Ou não faz sentido.

Uma "pessoa do século passado" talvez esteja se perguntando: mas para que carregar tanta música se a gente só escuta uma por vez. E a ele ou ela eu respondo: porque já não escutamos álbuns. Álbuns são monótonos. Dos músicos pop, geralmente duas canções são legais e o resto é material de segunda para preencher o tempo de gravação.

A idéia é ouvir música como nas rádios, variando de autor, de gênero, mas sem ter que ser interrompido pelos anúncios comerciais. E para que essa experiência aconteça, não dá para ficar limitado a 20, 30 álbuns. É preciso ter centenas para a gente se surpreender mesmo.

Na garimpagem pelo SoulSeek muitas vezes a gente não sabe se aquilo que se está baixando é bom ou ruim. Primeiro você baixa e depois testa rapidamente, ouvindo uma faixa ou outra, para se ter uma idéia do material. Muita coisa já é descartada nesse momento, mas a segunda etapa é jogar tudo dentro do player - no caso, o Ipod, que é o único que eu conheço que oferece versões com dezenas de gigas de espaço.

Meu amigo Estiga é mais radical. Ele disse que não importa escutar, o importante é baixar pelo prazer de ter. O que fazer com aquilo não vem ao caso. Eu penso que se estou tendo trabalho para baixar, aquilo deve ser desfrutado. Mas - e é onde eu queria chegar - eu passei pelo menos dois anos desejando intensamente um IPod sem ter dinheiro para comprar.

A experiência não se concluía. Ter um monte de música que você não escutaria em nenhuma rádio comercial, material raro que ou está fora de catálogo ou precisa ser importado, e depender de estar em casa e com o computador ligado para tirar proveito disso. E quando se está com o computador ligado às vezes ouvir música atrapalha. Resultado: raramente usei o SoulSeek no último ano. Para que?

Mas graças à generosidade de um outro amigo do peito, comprei de segunda mão, a um preço camarada, um tijolinho branco, um cadilac dos IPods, visor de cristal líquido, com 40 giga de espaço no tanque, e muito bem conservado.

Lentamente comecei a carregar o acervo que ficou guardado no meu HD. Estou fazendo isso aos poucos porque apesar de 40 giga ser OK, não dá para abusar e encher o espaço com lixo. Já preenchi quase 14 giga e ainda tenho muito trabalho pela frente. Vou triando o material pelo Itunes, vendo se vale a pena e relacionando cada álbum com categorias que eu criei.

O Ipod vale também pelos podcasts. Eu baixo o material em inglês, que é mais diversificado, mas tenho encontrado pouco tempo para aproveitar esses programas. Agora que eu tenho a máquina, falta resolver o problema da criminalidade no país, para a gente poder andar pela rua, tomar ônibus, metrô, sem o medo de perder o brinquedo. (Ainda bem que o fone branco do Ipod virou moda e agora não chama mais tanto a atenção, porque muita tente tem.)

De todo modo, demorei umas duas semanas para aprender o principal sobre o Ipod. aliás, para aprender o que eu já sabia em idéia, mas não tinha me ocorrido o quanto isso faz sentido. Estou falando do comendo shuffle, que toca aleatoriamente as músicas do aparelho. Eu achava que ia ficar muito confuso. Tem música demais. Eu preferia escolher uma categoria. Mas hoje experimentei o poder do shuffle.

O shuffle existe justamente para fazer funcionar o conceito novo de se ouvir música. Não dá para conhecer ordenadamente a música que vamos baixando. Também não dá para escutar um álbum inteiro de cada artista. O shuffle escolhe justamente aquilo que voce dificilmente escolheria, porque não conhece e prefere o certo pelo duvidoso. Por que perder tempo com um desconhecido se eu posso decidir racionalmente o que se encaixa melhor neste momento?

E é aí que chegamos ao ponto de origem deste texto. O shuffle é o DJ ideal do programa que eu propus há mais de dez anos para a USP FM. Não haveria locutor apresentando a faixa ou o artista. É a música o que conta. Se a pessoa quiser saber o que é aquilo, entra no site do programa e checa o nome. Do contrário, é deixar-se surpreender, ser conduzido pela mensagem sonora de uma pessoa que voce nunca ouviu falar, nem sabe quem é, e que por motivos misteriosos está se comunicando com você, e aquilo também misteriosamente faz sentido, é bom, é agradável.

Álbuns mais experimentais, que eu nao colocaria para escutar, apesar de simpatizar com o som, se encaixam bem nesse esquema. Primeiro porque a trilha é muito variada; voce nao vai escutar o disco inteiro e provavelmente o que virá em seguida é totalmente diferente. São sequencias de surpresas. E segundo: se voce não está no clima de uma determinada música, uma leve pressão no botão de próximo e outra faixa entra. Como diria o professor Nicolau Sevcenko, com seu sotaque inglês: - Bárbaro!

Concluindo: o programa que eu queria fazer já existe. Uma pena que só eu possa escutá-lo, mas já é um avanço. Quem sabe mais para frente uma emissora não se interessa pela idéia - apesar dela não ser muito comercial - e me oferece uma hora por semana para eu compartilhar minhas descobertas com quem mais quiser experimentar aquilo que não toca no rádio?

Em tempo: Obrigado, Paulo Pisano, por ter me proporcionado a oportunidade de viver essa experiência todos os dias.

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