18.5.07

Site convida alunos a ranquearem professores

A idéia do site descolando.com.br é dar aos universitários um espaço para trocar informações e avaliarem seus professores. Se for bem executado e a justiça brasileira não criar caso no começo, será um experimento social digno da Internet. O projeto desregulará a divisão de forças nas instutuições de ensino e ninguém sairá ileso.

Recebi um email anunciando o lançamento em breve do site www.descolando.com.br. Particularmente, não gosto do nome, por não ter relação direta com o assunto e causar confusão para quem escuta uma vez - digamos - pelo rádio e anota 'decolando' ou 'recolando' ou 'descolado'. Fora isso, a idéia promete dar o que falar, tem potencial para isso.

O site serve para estudantes avaliarem professores. Isso já deu muito o que falar nos EUA, porque existe um certo conflito de interesses entre professor e aluno. E já ouvi de aluno lá ter comprometido a carreira de professor postando, por exemplo, informação privada. 'Já ouvi dizer que Fulano fuma maconha.' Se é verdade, sem vem ao caso, se influencia sua performance profissional, não importa. Contra boatos, não há argumentos.

A Internet veio para chacoalhar o ambiente. Yochai Benkler fala da abertura de janelas para renegociação de valores provocada por uma inovação tecnológica. Haverá "casualidades de guerra". Mas o www.descolando.com.br acerta no questionamento ao poder instituído. É o mesmo tipo de tensão entre blogueiros e jornalistas. Os últimos dizem que são profissionais, e daí? Isso deve ser prerrogativa para que eles controlem (junto com os donos dos veículos) a esfera pública, o que é falado e calado?

Os professores talvez se sintam expostos, inclusive porque em geral eles dominam menos esta mídia que seus alunos. O tabuleiro mudou. As regras mudaram. Eles terão que ir à luta, reaprender a sobreviver usando essa plataforma de mídia.

Noves fora, a única mudança do descolando.com.br é o aumento do alcance da informação. Antes esse tipo de avaliação acontecia formalmente quando o estudante ou seus pais recorriam à direção para reclamar de um profissional, ou informalmente nas conversas entre colegas. Na minha faculdade, alguns professores tinham centenas de alunos e eram escalados para os auditórios, enquanto outros tinham menos de vinte e ficavam com as salinhas. Motivo: recomendação boca a boca.

O que o www.descolando.com.br promete fazer é que esse tipo de informação se liberte. A escola não poderá esconder o fato de um profissional não agradar uma turma. E ele poderá inclusive ser um bom professor mas incapaz de se articular politicamente com os alunos.

Esses casos deverão ser a exceção. Um profissional competente deverá ter alunos a seu favor para balancear as críticas dos mal-intencionados. Seria, inclusive, interessante que o site provesse algum mecanismo de ranqueamento para a comunidade saber se aquele estudante tem mais ou menos méritos para sua opinião ser respeitada. Isso poderia se basear na recomendação de outros estudantes e também nas notas que ele recebe em seus cursos.

Meu único receio é que o site saia do ar por causa de algum processo jurídico.
A legislação de um lado pende para o lado de quem pode pagar advogados caros - Roberto Carlos censurou sua biografia e ficou por isso mesmo - e de outro trata a população geral como incapaz. Se dependesse da justiça daqui, Orkut e YouTube, os dois maiores fenômenos da Internet brasileira, teriam sido fechados.

Eu espero que o descolando.com.br consiga tanta simpatia dos estudantes a ponto de colocar a justiça e os establishment educacional em uma posição delicada ao querer impor suas decisões. Como aconteceu no começo do mês nos Estados Unidos, quando o site Digg! enfrentou uma revolta entre seus usuários por ter apagado uma informação relativa ao código para copiar informação dos HD DVD. As empresas até pediram, as leis até permitiam, o site até tentou, mas qualquer imposição pela força seria tão impopular e geraria tanto mais mídia que todos desistiram.

Vida longa ao Descolando.com.br !