28.6.07

Bem-vinda ao mundo, Eleonora

Uma das minhas colegas de trabalho, uma menina doce, bem casada, está curtindo sua primeira gravidez. Em agosto, se tudo seguir nos trilhos, virá ao mundo a pequena Eleonora... A mãe da Eleonora tem convênio médico e portanto poderia fazer o parto em uma boa maternidade, reduzindo ao mínimo as dores e o estresse que envolvem a situação. Mas para o escândalo do médico e de quase todo mundo que conhece minha amiga, ela decidiu dar a luz sem anestésico e sem a presença de um médico, em centro de saúde público que faz parte do SUS chamado "Casa do Parto".

Eu nunca tinha ouvido falar dessas Casas. Segundo minha colega, só existem duas em São Paulo, no Itaim Paulista e em Sapopemba. Quem conhece a cidade, sabe que esses locais ficam na periferia da periferia, e portanto foram criados para atender a demanda de grávidas de origem simples, dispostas a ter seus bebês da maneira convencional, sem cortes e sem anestésicos.

Curiosamente, em uma completa inversão de planos, as Casas de Parto praticamente não teriam pacientes não fosse a demanda de mulheres da classe média. O procedimento é acompanhado só por enfermeiras e existe uma ambulância na porta para o caso de acontecer alguma complicação. Além disso, a criança vem ao mundo cercada de familiares. E como a mãe não é anestesiada e nem recebe pontos (o corte vaginal é preventivo, mas não é um procedimento necessário para todos os casos), em poucas horas mãe e filho voltam para casa.

E para que uma pessoa se submete a ter seu filho dessa maneira? Por que não fazer o procedimento com hora marcada? É bom para o médico, que não precisa ficar a postos esperando as contrações, é bom para a mãe, que supostamente sofre menos. Talvez só não seja bom para a única pessoa que não é consultada nessa equação: o bebê, que é o motivador de toda a história, mas que não tem como se manifestar.

Não vou falar do óbvio, que é você ser tirado da barriga da sua mãe pelas mãos de alguém, de uma maneira artificial, contrariando a cerimônia do parto. O que eu não sabia em relação ao procedimento cirúrgico para o nascimento, é que ao sair, o bebê fica uns poucos segundos com sua mãe e já é encaminhado para exames. Volta só uma hora depois. E daí em diante, pelos próximos três dias, passa a maior parte do tempo em um berçário junto com dezenas de outros recém-nascidos, sozinho, isolado, como se ele fosse uma planta de estufa.

Não acho que alguém precise do diploma de psicólogo para imaginar o desconforto, a imensa tristeza que isso deve gerar em muitos deles, de concluir um processo de nove meses vivendo no interior de sua mãe, na situação de maior intimidade, e de repente ser colocado nesse confinamento, recolhido a cada três horas para mamar para em seguida voltar para sua solitária, longe do calor, do cheiro, da textura da pele e do som da pessoa a partir da qual ele se fez.

Eu não sou mulher, nunca serei mãe e por isso não tenho como avaliar a experiência do parto desse ponto de vista. As dores, as contrações, o cansaço, as possibilidades de infecção. Mas se as novas mamães, antes de terem seus filhos, já são convencidas pelos médicos e pelos especialistas em relação ao que seria melhor para elas e para a criança, elas também não estão tendo o direito de tomar essa decisão.