26.3.07

Web2.0 - a tentativa foi bem intencionada mas...

Acabou de sair publicado na WebInsider um artigo recente que escrevi explicando porque eu não gosto de usar o termo Web2.0. Conversando recentemente com o André Passamani, concordamos que o Tim O´Reilly não criou o termo por sacanagem, para se beneficiar, e que Web2.0 indica, sim, uma ruptura com a internet pré-Bolha por apontar para características mais recentes. Feita essa ponderação, concordamos também que a proposta não deu conta do recado.
A Webinsider publicou este final de semana o artigo mais recente que eu mandei para eles. O texto é retirado integralmente da introdução do meu livro (que deve sair até julho) - tanto que comi bola e não cortei uma passagem que faz referência ao mesmo: "Seguindo essa linha de raciocínio, este livro trata exclusivamente da Web 2.0. Mas pelos motivos apresentados a seguir, optamos – autor e editora – por não adotar o termo."

Eu já tinha enviado o artigo para o Jornal de Debates do Pedro Markun. Me preparei para reações fortes. Por falta de um termo universal, todo mundo hoje está falando de Web2.0. (Estive, este final de semana, no Barcamp SP, onde a maioria do público era geek. E mesmo lá o jeito foi dizer 'web2.0'. Inclusive este que questiona a pertinência do termo.) Com tanta gente usando, possivelmente haveria defensores de se usar Web2.0 interessados em contrapor idéias. Mas do Jornal ninguém quis debater.

Falando com o Maratimba (aka André Passamani), que é um dos caras mais antenados em relação a tecnologia hoje que eu conheço, revi um pouco a minha repulsa pelo termo. O problema, para mim, é que web2.0 se tornou uma buzzword para empresas sem modelo de negócio sério tirarem proveito do reaquecimento do mercado e com isso reinflacionem os produtos visando o lucro rápido, levando à formação de uma nova Bolha.

Mas o Maratimba me disse algumas coisas que fizeram sentido.

1) o Tim O'Reilly, o principal responsável pela adoção do termo, não é um picareta; ele é dono de uma editora respeitada, com um catálogo fundamentalmente voltado para programadores, mas que também tem livros para o grande público. Um deles é o do Dan Gillmor sobre jornalismo na Web, que foi integralmente disponibilizada pela web - com a autorização da editora!

2) o termo web2.0 não se refere apenas a colaboração e à comunicação de muitos para muitos; se refere a uma postura nova dos desenvolvedores, de estimular que os aplicativos sejam integrador e misturados (mashups), e também de uma percepção de que a web não seja um empreendimento que depende de milhares de dólares para acontecer. Está muito mais para "um aplicativo na cabeça e uma idéia na mão".

O Passamani tem razão. Mas ele também admite que Web2.0, apesar de ser uma tentativa bem-intencionada de facilitar a comunicação, de resumir uma idéia composta por muitas informações condensadas, não deu conta do recado. Acabou sendo, sim, adotado, mas ele não consegue explicar aquilo que deveria estar associado a ele. Com isso, o termo fica vaga e disponível para ser preenchido por qualquer idéia; virou uma espécie de sinônimo de inovação, de "se você não tiver isso, vai ficar para trás".

Parêntese: Uma vez ouvi de um profissional de Marketing, falando sobre podcasts: - "É o máximo. Vou falar sobre isso nas empresas, as pessoas não sabem direito o que é e acreditam em qualquer coisa que voce disser." O objetivo de quem age assim é fazer dinheiro; simplesmente garantir o deles. E é uma postura predatória que nós, que já trabalhávamos na empresa antes da Bolha estourar, conhecemos de perto. Como as estatísticas eram manipuladas. Como os comunicados de imprensa exageravam, floreavam as informações sobre os produtos que nós estávamos encarregados de gerenciar.

Isso me lembra aquela história espertalhões que aparecem em um reino se dizendo grandes costureiros, e que trabalhavam com um tecido tão fino que só as pessoas inteligentes conseguiam ver. Resultado, todo mundo ficava com vergonha de admitir sua suposta burrice e descreviam admirados a beleza dos panos. E o rei acaba passando ridículo ao desfilar nu - achando estar vestindo uma roupa deslumbrante. Fecho parêntese.

Mais uma vez, achei que as pessoas que adotaram o termo Web2.0 fossem de alguma maneira polemizar com as idéias expressas no meu artigo. Mas para a minha surpresa, alguém se identificou com ele, o que é também é legal. Quer dizer que a idéia ecoou.

A questão agora é ver se vale mais a pena colocar energia em recuperar o sentido original de Web2.0, tentar remendar a palavra com os significados que ela deve carregar consigo, ou se é melhor falar de internet colaborativa (que é meio redundante porque a internet enquanto mídia pressupõe que exista colaboração), mídia social, ou alguma outra palavra.